terça-feira, 7 de junho de 2011

Conflitos de um quase Jornalista



Eu sempre quis ser jornalista. Sempre. Desde que eu assistia o MGTV 1ª Edição – com aquela apresentadora loira e linda, lembram dela? Bem pequeno e já desejava a cadeira da loira (que ficava atrás daquela bancada gloriosa, à frente das belas fotos aqui da nossa região). Sem falar de Fátima Bernardes e Wiliam Bonner, que me deixam em êxtase até hoje.

Vocês não imaginam o quanto de bullying sofri da minha família com essa minha idéia. Meu filho, a santa Fulana de Tal vai iluminar seus caminhos, dizia minha mãe. Jornalista é como jogador de futebol: pouquíssimos se dão bem, completava papai. Tem tanta profissão melhor, que dá um futuro seguro, acrescentava vovó. Uma tia minha – daquelas bem chatas, gordas, que consideram você uma criança mesmo depois de alguns centímetros de barba crescida – insistia para que eu prestasse um concurso da Petrobrás ou do Banco do Brasil... Jornalismo era pra gente vagabunda, que não quer nada com a vida.

Para arruinar ainda mais minha situação, quando eu estava no segundo ano e quase conseguindo convencer minha família de que o Jornalismo é um bom curso e que eu poderia me dar bem na profissão, o Gilmar “encanou” de tirar a obrigatoriedade do diploma de Jornalista para se trabalhar. Fiquei desesperado! Mamãe dizia aos quatro cantos que agora qualquer um poderia ser Jornalista, e eu a retrucava, dizendo não, não, não. Imagine a Maria jornalista, mamãe? Ela não sabe nem concordar os verbos, não lê, não se informa, nem paragrafar ela sabe.

A não exigência do diploma não me desanimou, a titia gorda também não. Mamãe, papai e vovó, muito menos. Fiz minha inscrição no vestibular para Jornalismo. Cheguei em casa com medo de ser expulso, ter que dormir na rua. Pelo menos vai continuar estudando, dizia mamãe. Terá que passar bem colocado, paguei um absurdo nessa inscrição, completava papai. Fiquei satisfeita, pelo menos vai estudar na UFU, acrescentava vovó. Titia se animou e vivia me perguntando quando me veria no Jornal Nacional. Coisa chata.

Na época do vestibular: dois dentes cisos nasceram, fortíssimas crises de vômito, corpo infestado por furúnculos, pressão arterial oscilando demasiadamente. Pois é, passei. Pensei que os ânimos iriam se acalmar, que a vida ficaria mais colorida e gostosa de viver, que eu teria tempo de fazer caminhadas, leituras que estavam à espera, sair com amigos, viajar. Ah, doce ilusão!

Toda segunda, resenha. Toda terça, atividades da Cida Ottoni. Toda quarta, divagações sociológicas do Rodrigo. Toda quinta, Filosofia em Alemão com o Jakob. Toda sexta, relatórios da Sandra e correria, muita correria, com a Ana. As pessoas – agora todas elas, não só minha tia gorda – me irritam, perguntando quando estarei apresentando o Jornal Nacional (ninguém entende que o Telejornalismo é só uma disciplina do curso).

Mamãe agora vive imprimindo e guardando tudo o que eu escrevo. Papai torce para que eu trabalhe com jornalismo esportivo (vou deixar que ele sonhe um pouquinho). Vovó ficou traumatizada com a morte dos jornalistas que estavam no Morro do Alemão e vive tentando me convencer a mudar de curso. Minha tia gorda? Vamos ver se vocês adivinham... Quer me ver no Jornal Nacional por toda lei – mas disse que se satisfaz me vendo no Jornal Hoje ou no Jornal da Globo.

O jornalismo é viciante. É inesperado. É líquido demais. Não há dinheiro no mundo que pague a ansiedade em uma reunião de pauta, a emoção de uma matéria escrita por você publicada em uma primeira página, a possibilidade de auxiliar os mais humildes, de consertar estradas, de denunciar corrupção, de fazer justiça.

Fazer o que manda o coração da gente é a melhor coisa que existe.