Por Isley Borges e Carlos Gabriel
Eleonora Luiza da Costa. Esse era o nome dela. Sempre liderou discussões na câmara de vereadores, que mais parecia a “casa da mãe Joana”. Acreditava muito no que dizia a televisão, o rádio e a internet, tomava tudo o que diziam esses meios como verdades absolutas e gostava, também, de convencer as pessoas a aderirem à sua opinião e, graças a seu discurso, sempre conseguia tal proeza.
Tornou-se dona de um grande potencial de conhecimento, residido e elaborado em sua mente. Estudou Sócrates e aprendeu a falar bem. Transformou em Sofistas aqueles que não iam a favor de suas ideologias. Mudou-se para a cidade grande ainda pequena e adquiriu a supremacia burguesa aos bocados, ao assistir o pai vender produtos supérfluos com tamanha facilidade. Aprendeu bastante nessa época. Ainda carrega tecnologias linguísticas pertencentes a este período.
Certa vez, Eleonora convencera todos os habitantes da pequena São Dimas a destituírem o prefeito e exigirem novas eleições. Tudo porque a cidade fora denunciada anonimamente em um jornal regional. Acreditou em tudo o que os jornalistas falaram e tratou logo de disseminar a informação: panfletos, auto-falantes e microfones foram suportes para sua indignação. As palavras caíam sobre a cabeça dos Sãodimenses como gotículas geladas de chuva e enchiam de lágrimas os olhos das Marias e dos Joãos.
Indignada, convocou todos à frente da prefeitura e se pôs a protestar como nunca antes. Os cidadãos, também indignados, mas às vezes sem saber muito bem o que ali faziam, seguiam os passos da líder: “novas eleições! Novas eleições!”, eles gritavam alucinadamente. Tomavam parte de toda a frente do local numa tentativa de expulsar o prefeito de seu posto.
Quase invadiram o local, contudo não conseguiram. Não conseguiram porque alguém gritava para chegar à frente, para falar com Eleonora. Muito espantava aquele advogado que ela, tendo o conhecimento que tinha, não contestasse e não apurasse o que era dito pelos meios de comunicação. Tudo o que sabia era reproduzir conceitos rasos. O advogado trouxe à Eleonora a informação de que a denúncia feita no jornal e divulgada sem apuração era profunda falácia, mentira das deslavadas. As palavras, que caíam como gotículas de chuva sobre a multidão, congelaram-se ali.
Eleonora estava estagnada, tentando inutilmente se convencer de que aquilo não estaria acontecendo, de que as palavras deferidas pelo advogado eram falsas e que tudo não passava de um produto do seu inconsciente, um empecilho apenas. A mulher, robusta na aparência, ficou abatida em ao visualizar a papelada que o homem lhe entregava. Deu-se por conta, entrementes, da sua visão equivocada e superficial dos fatos que criticava outrora. Rendeu-se ao o que lhe diziam as indústrias da comunicação e tomava as informações como verdadeiras. Arrependeu-se em amargura por tomar consciência da quão leviana fora neste tempo. Aprendeu a retórica com perfeição, mas ignorou a profundidade do mundo.