Pensaram que só os alunos anoréxicos iriam ganhar bronca? E os professores? Assim como existem alunos que não conseguem engolir a comida servida no tumultuado restaurante da educação, existem alguns professores que se recusam a fazer a comida, ou a fazem mal feita. Ninguém treinou direitinho esses chefes de cozinha? O que aconteceu e o que acontece? Esses péssimos profissionais de hoje eram os alunos que não queriam ou não conseguiam engolir a comida no passado? A comida que vocês estão servindo têm condições de ser engolida? Leiam...
Sabe-se que, na sociedade atual, é de extrema importância que tenhamos uma graduação. Há uma valorização do estudo e os níveis de dificuldades deste estão cada vez maiores. Profissionais ou “projetos de profissionais” se formam constantemente e se multiplicam de uma forma gritante. Freqüentar um curso de graduação não é tão difícil, o difícil é exercer a profissão de uma forma responsável. O assunto é muito amplo, então, focarei-me nos profissionais que fazem os cursos de licenciatura, os quais, às vezes, mesmo com muitos anos de profissão não conseguem repassar o conteúdo, ou até não o dominam, não possuem didática e não utilizam nenhum método agradável ou atualizado de ensino. São os que querem apenas o salário no final do mês e que não fazem o mínimo de esforço para conquistar a admiração dos alunos. Resumindo: o indivíduo que está presente na escola apenas porque ganhou licença para dar aulas, geralmente já tentou outras profissões e não obteve sucesso ou precisa sustentar-se ou sustentar a família.
A comunidade escolar não funciona muito diferente da sociedade. Na escola, as pessoas são julgadas, testadas, pré-conceituadas, discutidas, aceitas ou não. Penso que, depois que um professor entra em uma sala de aula, ele jamais sairá o mesmo: esse ato acarreta a aquisição de uma bagagem de conhecimento e experiência inenarráveis. Dizer que falta de experiência influencia de maneira significativa o desempenho do professor não é um argumento muito louvável, já que temos vários exemplos escancarados de professores que acabaram de se formar e não são apenas “formados”. Da mesma forma, temos exemplos de professores que já estão prestes a se aposentarem e não apresentam sinais de experiência e maturidade quando estão no comando da classe. Os “formados” se consideram detentores da verdade e não mediadores do conhecimento, e, por se denominarem assim, não conseguem harmonia no ambiente profissional. O resultado do que foi dito por último é: pouco aproveitamento das aulas e muita insatisfação por parte do aluno e do próprio professor, que não consegue atingir seu objetivo (fazer com que o aluno aprenda algo, pelo menos eu acho...).
As maiores responsáveis por esses “formados” são as universidades, que, no lugar de ensinarem didática, optam por perder tempo com discussões teóricas que quase sempre se baseiam em conceitos sem nenhuma comprovação científica, adotando uma política tradicionalista, extremista e que deixa de propor para impor. Isto está arraigado nas maiores universidades brasileiras. Os “robozinhos” que aceitam essa formação desnutrida e não procuram mudar os métodos de aplicação de conteúdo, expõem em sala de aula uma visão pouco objetiva e ideológica do mundo, não dominam sequer o básico e ignoram métodos para se passar o conhecimento adiante.
O mais agravante é que o governo, através de leis instáveis, sem bases sólidas (como a Lei 100, por exemplo), efetiva profissionais qualificados ou não, achando que ajudará a escola, organizando o quadro de professores e livrando a mesma de problemas gerados pela contratação de novos profissionais. Vamos analisar: é melhor um contratado que domina o conteúdo, possui controle da sala, tem o carinho dos alunos, ou o efetivo desnutrido nos quesitos humanidade, socialização, afetividade e respeito ao aluno? O governo é mesmo muito complicado... Não percebeu que a solução para o problema começa com a valorização salarial do profissional, visto que, o salário serve de estímulo pessoal e para aumento da qualificação.
Em consideração a tudo isso, proponho uma reflexão a cada um de vocês professores. Será que estou satisfeito em meu ambiente de trabalho? Eu gostaria mesmo de estar aqui lecionando? Para mim basta o diplominha ou o que importa é o crescimento pessoal? Reclamar dos constantes projetos enviados pelo governo e do meu baixo salário resolverá meu problema? Perguntas assim deveriam ser feitas por vocês todos os dias antes de encararem uma classe cheia de alunos. Torço para que os “formados” de plantão acordem para a realidade e sintam a tamanha responsabilidade que carregam. Você não deve pensar que é só servir a comida e pedir que eu a mastigue, antes disso, deve prepará-la colocando ingredientes indispensáveis, como: conhecimento, boa vontade, amor, dedicação, responsabilidade... Se a comida estiver destemperada, logicamente não irei mastigá-la, tampouco engoli-la, e então, você terá que limpar a sujeira, só que dessa vez sem reclamar.
