“Hoje quero levá-los a uma reflexão: há meses atrás fiz uma cirurgia de risco, com um pós-operatório um tanto complexo, e por isso, sem a ajuda de minha irmã, talvez eu não pudesse estar aqui hoje. Ela me tratava como um bebê, comidinha na boca, horários de remédios e outros cuidados. Em todo esse período, ela teve muita paciência para me ajudar, e eu queria ser ajudada. De que adiantaria se ela trouxesse a comida e o remédio e eu, por algum motivo, me recusasse a engolir? O esforço dela seria em vão.”
O trecho acima, foi dito em sala de aula, por uma de minhas professoras, e, baseado nisso, penso o que vem adiante:
Os alunos ganham durante todo o ano a matéria mastigada e são avaliados de diferentes formas. A escola oferece a eles cursos de aprofundamento de estudos, biblioteca com livros de qualidade, projetos de grande aproveitamento - caso houvesse um mínimo de interesse. Eles ganham a comida na “boquinha”, mas, na maioria das vezes, nem com toda a equipe pedagógica fazendo “aviãozinho”, eles querem engolir o alimento que, neste caso, é a matéria.
Os alunos ganham durante todo o ano a matéria mastigada e são avaliados de diferentes formas. A escola oferece a eles cursos de aprofundamento de estudos, biblioteca com livros de qualidade, projetos de grande aproveitamento - caso houvesse um mínimo de interesse. Eles ganham a comida na “boquinha”, mas, na maioria das vezes, nem com toda a equipe pedagógica fazendo “aviãozinho”, eles querem engolir o alimento que, neste caso, é a matéria.
O programa de ensino não pede que o alunado coma toda a comida, ele pede que comam a metade dela, o que é uma injustiça, já que no vestibular terão que comer toda a comida e a sobremesa... Alguns alunos se sentem cheios e com indigestão comendo vinte por cento da comida do prato, outros comem a metade, e existem aqueles que guardam a comida na geladeira pra comer no próximo ano. Analisem comigo: o restaurante funciona durante duzentos dias, no mínimo quatro horas e meia por dia, e ainda temos alunos que não conseguem comer nem a metade dessa comida.
A solução seria aumentar o tempo de funcionamento do restaurante? Ou seria melhor se colocassem menos comida no prato? Ou ainda, se os professores comessem um pouco dessa comida para os alunos? Podemos também pensar na possibilidade de permitir que a comida seja guardada durante anos na geladeira ou até que seja descartada (como acontece muitas vezes...). Enfim, o governo está interessado mesmo é se seus funcionários estão servindo essa comida, se ela é engolida, isso não importa muito.
No final do expediente, quando o restaurante está quase sendo fechado, órgãos de defesa do corpo discente, constantemente procuram os responsáveis pelos diversos setores do restaurante e, nesse momento, são feitas queixas, pedidos, alguns imploram, choram e chegam a perguntar: “Meu filho não engoliu a comida, o que você pode fazer para ajudá-lo?”. O governo, infelizmente, obriga os professores a darem um tapa nas costas desses engasgados. Os espertos acabam de engolir e ficam com a comanda limpa para ser usada novamente, os outros, ao invés de acabar de engolir a comida, lançam-na no rol do restaurante.
Até então, sem problemas. Aliás, sem problemas não... No ano seguinte, quem é que vai limpar a sujeira que ficou no rol do restaurante? O pior é que sãos os professores, profissionais obrigados a limpar a sujeira e abrir a mente do aluno para que, ao final do ano que se inicia, ele não seja tão negligente quanto foi no ano anterior. Trabalhos contra indigestão são feitos durante todo o período letivo, mas infelizmente não surtem muito efeito. Afinal, nenhum professor gosta de ver seu aluno comendo rapidamente, pedindo os outros colegas para ajudar a comer a comida do prato e, muito menos, se engasgando.
Assim, o trabalho neste tumultuado restaurante segue num ritmo razoável, onde alguns têm um ganho nutricional incrível e aproveitam o máximo que podem da comida que é servida. Outros comem o que lhes interessa, sem se dar conta do desperdício que há durante um ano inteiro. E não podemos nos esquecer daqueles que não comem nada e se tornam raquíticos, desnutridos em matéria de conhecimento.
