sábado, 6 de agosto de 2011

O drama dos apenas "formados" na comunidade escolar

Pensaram que só os alunos anoréxicos iriam ganhar bronca? E os professores? Assim como existem alunos que não conseguem engolir a comida servida no tumultuado restaurante da educação, existem alguns professores que se recusam a fazer a comida, ou a fazem mal feita. Ninguém treinou direitinho esses chefes de cozinha? O que aconteceu e o que acontece? Esses péssimos profissionais de hoje eram os alunos que não queriam ou não conseguiam engolir a comida no passado? A comida que vocês estão servindo têm condições de ser engolida? Leiam...

Sabe-se que, na sociedade atual, é de extrema importância que tenhamos uma graduação. Há uma valorização do estudo e os níveis de dificuldades deste estão cada vez maiores. Profissionais ou “projetos de profissionais” se formam constantemente e se multiplicam de uma forma gritante. Freqüentar um curso de graduação não é tão difícil, o difícil é exercer a profissão de uma forma responsável. O assunto é muito amplo, então, focarei-me nos profissionais que fazem os cursos de licenciatura, os quais, às vezes, mesmo com muitos anos de profissão não conseguem repassar o conteúdo, ou até não o dominam, não possuem didática e não utilizam nenhum método agradável ou atualizado de ensino. São os que querem apenas o salário no final do mês e que não fazem o mínimo de esforço para conquistar a admiração dos alunos. Resumindo: o indivíduo que está presente na escola apenas porque ganhou licença para dar aulas, geralmente já tentou outras profissões e não obteve sucesso ou precisa sustentar-se ou sustentar a família.

A comunidade escolar não funciona muito diferente da sociedade. Na escola, as pessoas são julgadas, testadas, pré-conceituadas, discutidas, aceitas ou não. Penso que, depois que um professor entra em uma sala de aula, ele jamais sairá o mesmo: esse ato acarreta a aquisição de uma bagagem de conhecimento e experiência inenarráveis. Dizer que falta de experiência influencia de maneira significativa o desempenho do professor não é um argumento muito louvável, já que temos vários exemplos escancarados de professores que acabaram de se formar e não são apenas “formados”. Da mesma forma, temos exemplos de professores que já estão prestes a se aposentarem e não apresentam sinais de experiência e maturidade quando estão no comando da classe. Os “formados” se consideram detentores da verdade e não mediadores do conhecimento, e, por se denominarem assim, não conseguem harmonia no ambiente profissional. O resultado do que foi dito por último é: pouco aproveitamento das aulas e muita insatisfação por parte do aluno e do próprio professor, que não consegue atingir seu objetivo (fazer com que o aluno aprenda algo, pelo menos eu acho...).

As maiores responsáveis por esses “formados” são as universidades, que, no lugar de ensinarem didática, optam por perder tempo com discussões teóricas que quase sempre se baseiam em conceitos sem nenhuma comprovação científica, adotando uma política tradicionalista, extremista e que deixa de propor para impor. Isto está arraigado nas maiores universidades brasileiras. Os “robozinhos” que aceitam essa formação desnutrida e não procuram mudar os métodos de aplicação de conteúdo, expõem em sala de aula uma visão pouco objetiva e ideológica do mundo, não dominam sequer o básico e ignoram métodos para se passar o conhecimento adiante.

O mais agravante é que o governo, através de leis instáveis, sem bases sólidas (como a Lei 100, por exemplo), efetiva profissionais qualificados ou não, achando que ajudará a escola, organizando o quadro de professores e livrando a mesma de problemas gerados pela contratação de novos profissionais. Vamos analisar: é melhor um contratado que domina o conteúdo, possui controle da sala, tem o carinho dos alunos, ou o efetivo desnutrido nos quesitos humanidade, socialização, afetividade e respeito ao aluno? O governo é mesmo muito complicado... Não percebeu que a solução para o problema começa com a valorização salarial do profissional, visto que, o salário serve de estímulo pessoal e para aumento da qualificação.

Em consideração a tudo isso, proponho uma reflexão a cada um de vocês professores. Será que estou satisfeito em meu ambiente de trabalho? Eu gostaria mesmo de estar aqui lecionando? Para mim basta o diplominha ou o que importa é o crescimento pessoal? Reclamar dos constantes projetos enviados pelo governo e do meu baixo salário resolverá meu problema? Perguntas assim deveriam ser feitas por vocês todos os dias antes de encararem uma classe cheia de alunos. Torço para que os “formados” de plantão acordem para a realidade e sintam a tamanha responsabilidade que carregam. Você não deve pensar que é só servir a comida e pedir que eu a mastigue, antes disso, deve prepará-la colocando ingredientes indispensáveis, como: conhecimento, boa vontade, amor, dedicação, responsabilidade... Se a comida estiver destemperada, logicamente não irei mastigá-la, tampouco engoli-la, e então, você terá que limpar a sujeira, só que dessa vez sem reclamar.

Já está mastigado, basta você engolir

“Hoje quero levá-los a uma reflexão: há meses atrás fiz uma cirurgia de risco, com um pós-operatório um tanto complexo, e por isso, sem a ajuda de minha irmã, talvez eu não pudesse estar aqui hoje. Ela me tratava como um bebê, comidinha na boca, horários de remédios e outros cuidados. Em todo esse período, ela teve muita paciência para me ajudar, e eu queria ser ajudada. De que adiantaria se ela trouxesse a comida e o remédio e eu, por algum motivo, me recusasse a engolir? O esforço dela seria em vão.”

O trecho acima, foi dito em sala de aula, por uma de minhas professoras, e, baseado nisso, penso o que vem adiante:

Os alunos ganham durante todo o ano a matéria mastigada e são avaliados de diferentes formas. A escola oferece a eles cursos de aprofundamento de estudos, biblioteca com livros de qualidade, projetos de grande aproveitamento - caso houvesse um mínimo de interesse. Eles ganham a comida na “boquinha”, mas, na maioria das vezes, nem com toda a equipe pedagógica fazendo “aviãozinho”, eles querem engolir o alimento que, neste caso, é a matéria.

O programa de ensino não pede que o alunado coma toda a comida, ele pede que comam a metade dela, o que é uma injustiça, já que no vestibular terão que comer toda a comida e a sobremesa... Alguns alunos se sentem cheios e com indigestão comendo vinte por cento da comida do prato, outros comem a metade, e existem aqueles que guardam a comida na geladeira pra comer no próximo ano. Analisem comigo: o restaurante funciona durante duzentos dias, no mínimo quatro horas e meia por dia, e ainda temos alunos que não conseguem comer nem a metade dessa comida.

A solução seria aumentar o tempo de funcionamento do restaurante? Ou seria melhor se colocassem menos comida no prato? Ou ainda, se os professores comessem um pouco dessa comida para os alunos? Podemos também pensar na possibilidade de permitir que a comida seja guardada durante anos na geladeira ou até que seja descartada (como acontece muitas vezes...). Enfim, o governo está interessado mesmo é se seus funcionários estão servindo essa comida, se ela é engolida, isso não importa muito.

No final do expediente, quando o restaurante está quase sendo fechado, órgãos de defesa do corpo discente, constantemente procuram os responsáveis pelos diversos setores do restaurante e, nesse momento, são feitas queixas, pedidos, alguns imploram, choram e chegam a perguntar: “Meu filho não engoliu a comida, o que você pode fazer para ajudá-lo?”. O governo, infelizmente, obriga os professores a darem um tapa nas costas desses engasgados. Os espertos acabam de engolir e ficam com a comanda limpa para ser usada novamente, os outros, ao invés de acabar de engolir a comida, lançam-na no rol do restaurante.

Até então, sem problemas. Aliás, sem problemas não... No ano seguinte, quem é que vai limpar a sujeira que ficou no rol do restaurante? O pior é que sãos os professores, profissionais obrigados a limpar a sujeira e abrir a mente do aluno para que, ao final do ano que se inicia, ele não seja tão negligente quanto foi no ano anterior. Trabalhos contra indigestão são feitos durante todo o período letivo, mas infelizmente não surtem muito efeito. Afinal, nenhum professor gosta de ver seu aluno comendo rapidamente, pedindo os outros colegas para ajudar a comer a comida do prato e, muito menos, se engasgando.

Assim, o trabalho neste tumultuado restaurante segue num ritmo razoável, onde alguns têm um ganho nutricional incrível e aproveitam o máximo que podem da comida que é servida. Outros comem o que lhes interessa, sem se dar conta do desperdício que há durante um ano inteiro. E não podemos nos esquecer daqueles que não comem nada e se tornam raquíticos, desnutridos em matéria de conhecimento.